9. Atrás de uma imagem de madeira

18/10/2019

Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral



Entre os momentos de abertura do Sínodo houve também uma celebração de acolhimento das realidades amazônicas. Logo os conservadores rasgaram as vestes acusando que ídolos pagãos foram entronizados na Igreja... Aos olhos deles aquele momento tinha um significado completamente diferente do real.

Mas o que a Igreja está fazendo? Qual significado a Igreja dá realmente a este tipo de gestos? Vamos ler o que o próprio Papa Francisco declarou quando convocou o Sínodo para a Amazônia, durante a Visita Apostólica no Peru ao encontrar os povos indígenas reunidos:


Precisamos que os povos indígenas plasmem culturalmente as Igrejas Locais amazônicas... Ajudai os vossos bispos, ajudai os vossos missionários e as vossas missionárias a fazerem-se um só convosco e assim, dialogando com todos, podeis plasmar uma Igreja com rosto amazónico e uma Igreja com rosto indígena.

(Papa Francisco. Discurso em Puerto Maldonado, 19/01/2018)


Antes de tudo, o acolhimento de pessoas indígenas, com seus próprios símbolos religiosos tradicionais, tem o sentido do se reconhecer irmãos a partir do propósito da Igreja de fazer-se um os outros povos. Por que?


A fim de poder oferecer a todos o mistério de salvação e a vida trazida por Deus, a Igreja deve inserir-se em todos esses agrupamentos [da humanidade], impelida pelo mesmo movimento que levou o próprio Cristo, na incarnação, a sujeitar-se às condições sociais e culturais dos homens com quem conviveu.

(Concílio Vaticano II. Decreto Ad Gentes, n.10)


Acolher pessoas com seus próprios símbolos, ainda que pertençam a uma tradição religiosa não-cristã, não significa automaticamente estar realizando um gesto de sincretismo. Simplesmente a Igreja vive aquilo que o próprio Deus Filho vive: a incarnação. A Igreja põe em ato o primeiro e fundamental princípio de todo e qualquer processo autêntico de evangelização. Esta clareza sobre a verdadeira evangelização a encontramos num importante documento preparado em 1991 pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso e pela Congregação para a Evangelização dos Povos:


[O anúncio do Evangelho deve ser] inculturado, encarnado na cultura e na tradição espiritual daqueles a quem se dirige, de modo que a mensagem não só lhes seja inteligível, mas também compreendida como correspondente às suas mais profundas aspirações, e verdadeiramente como a Boa Nova que eles esperavam.

(Documento "Diálogo e Anúncio", n.70)


Não há verdadeira comunicação sem antes eu entrar no mundo do outro que quero alcançar. Não apenas usando o idioma dele, mas indo para dentro da sua estrutura de compreensão da vida e do mundo como um todo. Mais ainda, não é possível comunicar a Boa Nova do Evangelho a quem não conhece Cristo sem antes traduzi-la de acordo com as aspirações mais profundas que o próprio Deus lhe inscreveu desde sempre no coração. Isto porque todo ser humano é realmente criado a imagem e semelhança de Deus. Todo ser humano, com sua cultura e religião, também reflete a obra do único Criador.


O Concílio reconheceu abertamente a presença de valores positivos não só na vida religiosa de cada crente das outras tradições religiosas, mas também nas mesmas tradições religiosas a que eles pertencem. Atribui estes valores à presença ativa de Deus mesmo através do seu Verbo, e também à ação universal do Espírito.

(Documento "Diálogo e Anúncio", n.17)


É claro que quem desconhece o Concílio Vaticano II, ou até o rejeita, nunca vai poder compreender o agir da Igreja hoje. Apenas ficará aprisionado dentro de sua concepção ideológica e falsificada da fé.

Ainda mais torna-se claro que para os adeptos da "Igreja conservadora", a evangelização não parte absolutamente pelo princípio da incarnação. Para eles evangelizar significa impor uma doutrina e uma prática religiosa. Significa chegar aos povos indígenas destruindo sua cultura e tradições, tachadas de serem exclusivamente realidades demoníacas, para substituí-las com aquele conjunto de realidades cristãs às quais eles acreditam de obedecer firmemente.

Tudo isso é apenas colonialismo religioso, é crime, é profundíssima traição do Evangelho. Algo que manchou inúmeras vezes a história da Igreja com inacreditáveis abismos de violência e destruição, mas que hoje não encontra mais legitimidade alguma, tanto na doutrina quanto na prática eclesial, e isto graças ao Concílio Vaticano II.

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